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Vozes que chegam

Artigo de opinião de Vítor Hugo Faria

O panorama democrático da política portuguesa e mundial tem sido marcado, de forma mais vincada nos últimos anos, por (algumas) vozes que, apesar de não possuírem uma linha ideológica coerente e, por isso, muito imprevisível, têm conquistado parte desse espaço mediático.

Esta tem sido, na maioria das vezes, uma abordagem populista, marcadamente nacionalista – com forte incentivo à xenofobia – e que direciona as suas “tiradas políticas” ao “sabor da maré”, comportando-se como verdadeiros “cata-ventos”, sem daqui se retirarem propostas construtivas.

O resultado destes discursos é verificável em vários países, tais como os de Marine Le Pen em França ou de outras personalidades que chegaram mesmo ao poder, tais como Jair Bolsonaro no Brasil, Donald Trump nos Estados Unidos da América, Matteo Salvini em Itália e, mais recentemente, na Argentina, com Javier Milei. 

No entanto, apesar de várias diferenças entres estes exemplos, verifica-se que aqueles que chegaram ao poder acabaram por não ter grande sucesso e os seus mandatos não foram renovados pelos eleitores. É caso para dizer que o populismo quando consegue iludir os seus eleitores engana-os durante muito pouco tempo!

Apesar destas limitações, importa perguntar qual o segredo da estratégia destes indivíduos para o alcance da sua retórica política e captação de eleitores? 

Estas correntes, muito dependentes do momento de personalidades com espírito bastante inflamado, atraem um apoio considerável, muito focado, no essencial, em grandes assuntos como: apelos à ordem, à segurança, críticas à imigração e, outro ponto comum, relacionam todos os poderes do Estado, de forma indiscriminada, com uma corrupção sistémica.

Todavia, quando analisamos melhor essa retórica, é possível dar conta da inexistência de apresentação de propostas concretas ou, quando existem, são iniciativas completamente desgarradas da realidade que: (i) são financeiramente inviáveis; ou (ii) como no caso de Portugal, esquecem toda a história do país, bem como o contexto europeu e de abertura ao mundo que nenhum de nós está disposto a abdicar.

A este propósito, vejam-se os discursos relativos à imigração, os quais fecham Portugal em si mesmo, desconsiderando toda a diáspora portuguesa e as dificuldades que os portugueses espalhados pelo mundo sentiram para vingar no estrangeiro. 

Será que já nos esquecemos dos nossos avós, dos nossos familiares, dos nossos amigos que, por necessidade ou por ambições pessoais e profissionais, optaram por partir, muitas vezes, de forma ilegal, para outro país?

Será que estamos em condições de esquecer os mais de 2 milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, bem como os lusodescendentes? Neste caso, podemos estar a falar de cerca de 5 milhões de pessoas!

Desta forma, não podemos permitir esse estímulo ao ódio e temos que procurar assegurar o sucesso da integração dos migrantes, na medida em que este movimento é fundamental para a nossa economia, para o futuro do nosso Estado Social, para a prosperidade das nações e para a coesão das sociedades europeias – neste envelhecido continente que é a Europa. 

Estamos, assim, com o desafio de continuar a construir um caminho que seja inclusivo e responda às necessidades da nossa sociedade, cada vez mais global, através da promoção de um diálogo saudável, respeito pelas diferenças e com compromisso por soluções realistas.

Façamos, neste período que se aproxima, um caminho de reflexão, para continuar a garantir que certas vozes não chegam ao céu!

Opinião

Vitor Faria
01 de Fev de 2024 0

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