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Fascistas desavergonhados

Artigo de opinião de Miguel Martins, Deputado Municipal do Bloco de Esquerda

Começo este texto recordando umas das mais sábias frases de Lenine: fascismo é capitalismo em decadência. Desde 2016, com a eleição de Donald Trump, que assistimos a um fenómeno de crescimento e banalização da extrema-direita por todo o mundo. A Europa, como bem sabemos, não foi exceção e são muitos os exemplos: de Orbán a Meloni, passando por Le Pen e Wilders, até Abascal ou Ventura.

Servindo-se do discurso de ódio, estas forças políticas reacionárias, com as suas particularidades, enganam os povos, culpabilizando certos setores da sociedade, marginalizados e, muitas vezes, desfavorecidos, como responsáveis pela falta de rendimentos ou de oportunidades de emprego, entre outros aspetos, e, acima de tudo, culpando-os pela falta de condições e qualidade de vida dignas de toda a população.

Devido às contradições do sistema capitalista, os povos viram, com as sucessivas crises financeiras que enfrentamos, os seus rendimentos cortados, as suas pensões reduzidas, o custo de vida aumentar, os seus direitos oprimidos e as suas condições laborais piorarem e precarizarem-se ainda mais. Os partidos do arco-do-poder justificam estes cortes em nome da austeridade e da contenção económica – imposições de Bruxelas, dizem-nos. Mas não é bem assim, pois enquanto os povos têm vindo, sucessivamente, a ter as suas vidas restringidas e limitadas, um pequeno conjunto de poderosos, os senhores dos grupos económicos, do retalho às comunicações, asseguram que os seus interesses são defendidos e salvaguardados. Em suma, e como seria de esperar, o modelo neoliberal falhou.

Oportunisticamente, os grupos e as figuras da extrema-direita, outrora relativamente pequenos, aproveitaram este momento para ganhar um novo ímpeto. Apresentando-se como a alternativa aos partidos no poder e às suas políticas que não responderam às pessoas quando elas mais precisavam, os partidos da nova onda da extrema-direita empregam um conjunto de táticas e estratégias variadas, assentes em populismo e demagogia, responsabilizando sempre uma faixa da sociedade, que possui uma identidade coletiva própria. Através de um discurso populista, a extrema-direita brade o ódio, a discriminação e a intolerância contra estes grupos sociais, manipulando e instrumentalizando as pessoas, tentando conquistar o eleitorado dos “partidos tradicionais”. O objetivo é concreto: a resposta para os problemas das pessoas passa por retirar os parcos direitos e condições a estes setores, marginalizando-os ainda mais. Enquanto isso, a extrema-direita visa proteger os interesses dos grupos económicos enquanto, simultaneamente, procede a um profundo ataque aos direitos sociais e aos serviços públicos.

Em Portugal, os sucessivos Governo de PSD e PS fomentaram o crescimento do espaço político da extrema-direita, que cavalga uma conjuntura política marcada por casos e casinhos, com diversas situações que acabaram por se transformar em polémicas mediáticas. Mesmo sendo o pior que o sistema tem, a extrema-direita tenta apresentar-se como uma alternativa, alegando ser a chave para as respostas aos problemas. Enquanto isso, esconde o seu programa político e o que verdadeiramente defende, utilizando o ódio como um véu - por trás do discurso, está o desmantelamento do Estado social, do Serviço Nacional de Saúde até à Escola Pública, uma política de baixos salários e, acima de tudo, a serventia aos mais poderosos. Na verdade, são tão bafientos como os regimes fascistas do passado em que se inspiram.

Ainda que não pareça, o modelo neoliberal e a extrema-direita são a cara e a coroa da mesma moeda. O mesmo se verifica na forma como os partidos da direita, em Portugal e em todo o mundo, têm vindo a alterar os seus discursos, banalizando e legitimando as ideias da extrema-direita, até mesmo ocupando o seu espaço político – há que chegar ao poder, custe o que custar. Por cá, importa salientar a chantagem política que o PS faz. Seguindo uma política fiscal focada em garantir tanto o agrado de Bruxelas como dos grupos económicos, utilizam a ameaça da participação da extrema-direita num Governo como arma de arremesso eleitoral. No entanto, o mesmo PS recusa-se fazer a autocrítica que se impõe, insistindo que políticas de cofres cheios servem para alimentar as pessoas.

Apenas será possível assegurar melhores condições e qualidade de vida a todas as pessoas através de mudanças estruturais na organização da sociedade, garantindo a inclusão de todos os grupos sociais, a igualdade de direitos e concertando a luta no combate aos interesses dos grupos económicos. O sistema capitalista e os grupos económicos continuarão a adaptar-se às circunstâncias e aos momentos históricos, seja através dos partidos do “centrão”, seja através da extrema-direita.

No Bloco de Esquerda, sabemos bem o caminho que temos que seguir: combater estas políticas, apresentando uma alternativa transformadora que defenda verdadeiramente os interesses das pessoas, através de um projeto para a construção de uma sociedade e de um país mais justos e solidários.

Opinião

Miguel Martins
18 de Jan de 2024 0

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