
Resistir ao retrocesso social
A Greve Geral de 11 de Dezembro é a resposta neces...
Há fatalidades que nem no país do fado são admissíveis. Refiro-me concretamente aos incêndios que lavraram um pouco por todo o continente. Ano após ano, os fogos entram em nossas casas, sem sabermos o dia em que nos baterão à porta, como parentes afastados que somos obrigados a acolher, sem lhes poder negar a visita.
Tornaram-se familiares, como se só nos restasse aceitá-los, resignados à sua presença. Fazem parte das programações televisivas, escancarando aos nossos olhos o desespero e a desgraça dos cidadãos que são vítimas das suas consequências, sem perceberem por que razão lhes calhou tal infortúnio. Roga-se então à proteção civil, aos bombeiros, aos municípios, ao Estado. Pede-se ajuda para as vidas que ficaram comprometidas, as perdas humanas ceifadas, os prejuízos materiais e ambientais. Mas nada muda, tudo se repete ano após ano.
Segundo afirmam os especialistas, os incêndios florestais em Portugal têm diversas causas, tanto naturais, quanto humanas. Entre as causas naturais, destacam-se fatores como descargas elétricas, que ocorrem durante trovoadas e incendeiam a vegetação seca ou calor extremo associado a ventos fortes e a fenómenos espontâneos. As causas humanas decorrem de negligência, fogo posto ou são o resultado de alterações climáticas, também de origem humana. Há ainda razões estruturais, que agravam os efeitos dos incêndios, como o abandono rural, as monoculturas de pinho e eucalipto, a irregularidade das chuvas no estio e a fragmentação do território, tal como sucede no norte do país.
Mas este destino não está predeterminado. É possível gerir os fogos que sazonalmente nos afetam. Existem múltiplas formas de prevenir e combater os incêndios com eficiência e eficácia. Para isso, será necessário interiorizar que os fogos de verão são essencialmente um problema político. A proteção civil e os bombeiros fazem o que podem, a população colabora em desespero de causa, a ajuda de países vizinhos com meios aéreos devolve alguma esperança, mas antes disso tudo é à política e só à política que compete resolver o problema. Não me refiro ao investimento em meios de combate, que parecem nunca ser suficientes, mas a decisões políticas que tratem a prevenção e o combate aos incêndios como um desígnio nacional. Não me consigo convencer que não é possível, politicamente, traçar um caminho que limite em muito a gravidade dos incêndios florestais.
Talvez tudo deva começar pela educação e sensibilização das pessoas, principalmente dos nossos concidadãos que se dedicam a atividades agrícolas. Seria útil realizar campanhas educativas destas comunidades sobre práticas seguras de queima de sobrantes. Igualmente, a utilização de novas tecnologias seria proveitosa, como os sistemas de monitorização e alerta precoce de vigilância florestal com sensores para deteção de fogo. E tantas outras soluções estão disponíveis no mercado, algumas delas amplamente testadas.
Precisamos de meios, é verdade. Mas, acima de tudo, precisamos de vontade política.
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