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Só especula quem quer enganar

Artigo de opinião de Domingos Pereira ex-vereador do BTF por renúncia do cargo.

Confesso que muitas das vezes para se escrever sobre determinados assuntos não é nada fácil. E se for para especular acredito que seja ainda pior a não ser que o que se escreve seja pura ficção, mas para o ser é preciso que quem escreve o diga sem receio ou até em defesa do direito ao bom nome e à respeitabilidade de uns para com os outros.

Já o disse muitas vezes que a liberdade de imprensa foi uma conquista de Abril e a sua ausência mina o Estado de Direito Democrático. E dentro de um Estado de Direito Democrático, nunca, mas mesmo nunca, pode haver censura nem delito de opinião e muito menos coartar as liberdades constitucionais de direitos, liberdades e garantias.

Não é de todo aceitável que sobre um cidadão comum ou com alguma visibilidade pública seja criado qualquer anátema entre ser bom ou mau, a pretexto de ser de direita ou de esquerda. E pior ainda se não “parecer” de esquerda mesmo que o seja, ser um “pecado mortal” como no tempo da inquisição e ser lançado à fogueira só porque em determinado momento defendeu outras abordagens políticas e partidárias, não tanto diferentes ideologicamente como muitas vezes se quer fazer crer.

E se não tivéssemos exemplos em determinados momentos históricos e conjunturais de natureza eminentemente política com a necessidade de recurso a soluções alternativas compatíveis com modelos de governabilidade na defesa do interesse geral, não teríamos tido governos, já no tempo de democracia pós 25 de Abril de 1974, quando Mário Soares, político de reconhecido mérito e talvez o maior político do país do século XX, com indiscutível mérito na construção de nossa democracia e da adesão à União Europeia, ao ter formado um governo de coligação do chamado “Bloco Central” com o PSD no tempo de Mota Pinto e até com o CDS de Freitas do Amaral.

Confesso que, à data, eu como muitos portugueses ideologicamente posicionados à esquerda do PSD e até à do PS mais à direita, ficamos “chocados” politicamente com tamanho recuo ideológico. Mas foi o que deu a Portugal a sua afirmação na europa e no mundo e mais tarde termos sido parceiros de pleno direito da União Europeia e da adesão ao euro, sendo hoje consensual da visão futurista que houve na nossa posição na europa e no mundo.Volvidas cerca de três décadas sobre tais acontecimentos, Mário Soares, nesta perspetiva, continua a ter sido, então, um político de direita?

E então a Pacheco Pereira, Zita Seabra e muitos outros com intervenções públicas de grande relevo no passado e no presente que, com esta dicotomia de direita/esquerda, levaria ao seu linchamento político só porque vieram do PCP para o PSD, ou como José Magalhães do PCP para o PS.

Eu participei na construção da maioria parlamentar para a formação do governo da chamada “geringonça” no ano de 2015 enquanto deputado do PS.E não estou arrependido por ter participado naquela conjuntura política, de acordo com a avaliação que foi feita democrática e legitimamente dentro dos limites constitucionais. Era militante do PS; entretanto desfiliei-me já lá vão sete anos e fi-lo por convicção e desprendimento de tudo, mesmo renunciar livremente ao lugar de deputado na Assembleia da República; também já disse por várias vezes que jamais me refilava no PS ou qualquer outro partido. Mas nunca disse, nem digo, que jamais permitirei que outros decidam por mim dentro dos meus direitos de cidadania e na defesa de uma Estado de Direito Democrático. Isso nunca farei nem abdicarei de, em cada momento, decidir e participar nos direitos de cidadania. E só especula quem quer enganar.

E já agora, também não me choca ou chocava que o PSD fizesse acordos de incidência parlamentar com o Chega, parceiro “natural” desta conjuntura política nos precisos termos constitucionais que o fizeram o PS, BE, PCP e Verdes. Afinal, onde está a coerência a tolerância e o exercício da democracia?

Renunciei a todos os cargos de natureza eletiva ou de nomeação de cariz político de livre vontade e decidi enquanto de mim dependesse. Mas jamais enveredaria por insinuações de natureza difamatória e até comparadas com autarcas de outros concelhos com empreiteiros à mistura que em última instância minam o Estado de Direito Democrático.

Admito que foi um momento menos feliz de alguém sem intenção, e se o foi, que tenham a coragem de denunciar publicamente quem protege quem e em que condições.

Opinião

Domingos Pereira
05 de Jun de 2024 0

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