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A voz que conquistou Lisboa

Gisela João é fadista residente na Casa de Fado "Senhor Vinho"

A mais velha de seis irmãos, Gisela João é hoje um caso raro de sucesso naquela que é a mais portuguesa de todas as formas de música, o Fado.

De há dois anos a esta parte, a barcelense tem enchido a Casa de Fado que a acolheu e por quem se rendeu ao primeiro som. “Sr. Vinho” é o espaço que dá abrigo à voz do norte, é lá que todas as noites se ouve fado por Gisela João. Hélder Montinho, irmão de Camané, apresentou-a a Maria da Fé, a “olheiro do fado”, tendo Gisela cantado lá pela primeira vez em 2010. A casa onde começaram fadistas como Mariza ou Ana Moura é agora a casa que tem como fadista residente esta barcelense orgulhosa de ser minhota. “Cantei e no final ela disse-me que se quisesse ficava já lá”, “o cavalo da sorte só passa uma vez, da segunda vez já vai montado”, e assim foi, ficou. Mudou-se para Lisboa a 1 de Agosto de 2010: trocou uma “vida estável para ir trabalhar a recibos verdes”, passou a ser “dona do seu tempo”, mas os primeiros tempos revelaram-se difíceis. Sem os amigos por perto, Gisela começou a frequentar umas tascas, onde “havia malta jovem”, que a aliciava para cantar. Foi o primeiro sinal de que o seu nome já começava a entranhar-se nos desejos de quem gosta de ouvir fado. Fadista residente há dois anos, “nunca” pensou que tal lhe acontecesse. “Os meus objectivos sempre foram ter uma família e sentir-me realizada profissionalmente, mas nunca pensei que fosse na música”.

A paixão pelo fado nasceu aos 8 anos… mas houve uma altura em que “quase” sentiu “vergonha” de o cantar
Agora com 29 anos, o primeiro clique para o fado deu-se ainda com oito. Enquanto tomava conta dos irmãos, ouviu pela primeira vez “Que Deus Me Perdoe”. Naquele poema de Amália reviu-se, achou que “aquela mulher” era ela. Começou, às escondidas, a cantar em casa. Estava dado o primeiro passo. O segundo viria pouco depois, ainda na 3ª classe, Gisela ouviu “Ai Mouraria”. Apaixonada pelo Frederico, um miúdo moreno da sua sala, era ele quem ela via na letra.
Tudo se encaixava, Gisela começou a cantar nas festinhas da escola. Participou em concursos, mas mais tarde, quando começou a sair à noite, achava-se já adulta e “cantar fado era quase uma vergonha, convínhamos, o fado só é moda há uns dez anos”. Nunca deixou de o cantar, mas fazia-o agora só para si.
Os anos foram passando e já com 16/17 anos, Gisela foi cantar para a “Adega Lusitana”, em Barcelos, “cantava às sextas e sábados, ganhava dez contos por noite”, mas nunca pensou fazer do “hobbie”, uma das razões de ser. “Cantava porque abria a boca e saíam sons que as pessoas gostavam”, disse Gisela. Mas o hobbie não viria a durar muito tempo, queria tirar um curso de design de moda, foi para o Porto em 2000. Mas quando lá chegou, com o dinheiro contado, e enquanto procurava um trabalho e a escola de design, a vontade de cantar falou mais alto. Por intermédio de um amigo, foi à casa “O Fado”. Quando lá chegou, “o homem” sentou-a a uma mesa. “Pensei, estou lixada, isto é super caro”. Gisela disse ao que ia e ele deixou-a cantar, não sem antes alertar quem estava: “Temos uma menina que não conhecemos de lado de nenhum e que nos pediu para cantar, se correr bem, batemos palmas, se correr mal, pedimos imensas desculpas”. No fim, não tinha a conta para pagar, mas um papel para deixar o contacto. Começou a cantar no dia seguinte.
A bola de neve ia crescendo, em 2009, deu voz aos Atlantihda e numa viagem a Copenhaga, encontrou Hélder Moutinho, que tinha conhecido há um par de anos. “Pensei que não me iria conhecer, mas quando vi estava ele de braços abertos para me cumprimentar. O contacto ficou feito” e começou a ir a Lisboa com mais frequência. Daí até Hélder e os irmãos, Camané e Pedro, fazerem força para que Gisela fosse de vez para Lisboa foi um passo. “O Camané era o meu deus, era o meu professor à distância, porque era aquele que eu ouvia”.
Ainda sem um disco lançado, Gisela está a trabalhar nele, mas não tem pressa, até porque como diz a sua avó Micas, “de pressa e bem, há pouco quem”, mas talvez no próximo ano.
Depois de conquistar o “Sr. Vinho”, Gisela deu, sexta-feira, um passo de gigante ao cantar pela primeira vez no Lux.
“Quando estou numa casa de fado, sei que as pessoas estão la para ouvir fado, mas dá-me um gozo especial cantar para pessoas que não consumem este género de música”. No Lux foi o verdadeiro concerto de apresentação, com o seu nome e o seu conceito já definido. Quando lhe disseram que era um espaço que levava 400 pessoas, disse para si: “Estou lixada, os meus amigos não vão encher este espaço”. Quando lá chegou, estavam os amigos, mas também muita gente que não conhecia e que a conhecia a ela. Estavam lá para a ouvir. A rampa foi posta, o próximo desafio é o CCB, a 8 de Março.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
27 de Dez de 2012 0

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