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"Não me preocupa a perfeição, mas a forma das peças"

Jorge Assis, artesão

Cria peças reutilizando restos de árvores em pinhais, escolas e ruas.

Auxiliar educativo na EB2,3 Gonçalo Nunes e afinador de máquinas industriais, Jorge Assis ocupa as horas vagas a dar formas artísticas a ramos perdidos dos pinhais e das podas dos plátanos na escola. O barcelinense de 55 anos convence até alunos à criação e reutilização de matérias lenhosas. Ao BP revela-se publicamente como artesão, admitindo que “há muito a caminhar”, mas com o sonho de um convite para fazer a sua exposição.

Como começou no artesanato?
Vai há mais de vinte anos. Fazia campismo com a família no Cabedelo [Viana do Castelo], uma zona de pinhal. Enquanto cozinhava o churrasco, apanhava restos de árvore e entretinha-me a dar-lhes formas.

Que trabalhos tem criado?
Um martelo cabeça de burro, um lançador de peso, um futebolista, um tipo de skater, um homem de cachimbo (parece o Herman José), uma mão, bengalas adaptadas, dinossauros e animais bizarros, serpentes, um suporte de vela, um apagador de vela, vários Cristos… Cada peça deve-se muito à característica e natureza do(s) ramo(s), eu só dou 40 por cento ao resultado final. Tenho a ideia de criar um presépio de peças sortidas, quase naturais mas com pequenos arranjos.

Onde apanha os troncos?
Ao podar os plátanos da escola Gonçalo Nunes e em sítios que pareçam interessantes, como a Avenida João Duarte. Chego a parar o carro junto à praia ou a pinhais para vasculhar bocados no chão. Depois corto onde quero, com serrote.

Que instrumentos usa?
Navalha, goivas, formões. Às vezes envernizo, dou briochene, encero. Depende dos tons que quero dar, da qualidade e resistência da madeira, da necessidade de conservar. Mas frequentemente prefiro ao natural.

Quanto tempo gasta a fazer a peça?
Trabalho várias em simultâneo. Gosto de estar ocupado. Pode demorar uma hora ou cinco dias no calendário. Sou capaz de pegar no tronco, descascá-lo e deixá-lo ficar, sabendo o que quero dele. Quando o material é verde descasco rápido e é fácil esculpir.
Não estou preocupado com a perfeição, mas com a forma das coisas. Em mostrar aquilo que  eu  já  via,  embora  estivesse despercebido pelos outros.

Tem algumas dezenas de trabalhos, mas ainda não se tinha revelado como artesão.
Pensei que só eu gostava do que  fazia,  porém  são  cada vez mais os que me dão parabéns.

Que comentam os alunos?
Sinto que convenço alguns alunos ao aproveitamento de materiais, à reciclagem e à criatividade. Recentemente peguei em alguns seixos da praia, cola, verniz e spray e fiz um carrinho. Uma coisa pequena, simples, bonita e prática. Alguns professores também apreciam e incentivam-me a continuar, por ter uma forma muito pessoal de trabalhar. Hoje em dia as pessoas só têm tempo para o computador, mas isto também faz falta.

E para quando a exposição?
Para já trabalho por gosto pessoal. Se acharem que merece uma mostra individual ou colectiva estou receptivo.

Já vendeu algumas peças?
Ainda não! Mas tive várias propostas. Uma vez quiseram comprar-me um Cristo por acabar, eu nem sabia que preço pedir!

Onde se pode ver as suas obras?
No meu atelier [nº 62 da rua Manuel Pais, em Barcelos], estou aqui quase diariamente a partir das 16h, 17h.

Aí tem colecções de miniaturas, galos, porta-chaves, relógios, telas, livros antigos...
Fui fundador da Feira das Antiguidades na Praceta Sá Carneiro, participo em diversas feiras desde Braga a Cerveira e sou sócio da Associação de Coleccionismo de Barcelos. Tenho um galo dos anos 40, 50, por exemplo.

E imensas máquinas de costura.
Há poucos anos fiz uma exposição em Esposende com meia centena de máquinas de costura centenárias, de manivela, de barquinho, miniaturas… Há muita procura disto pela Internet. As primeiras foram-me oferecidas pelo meu tio Álvaro Arezes, que me trouxe da Austrália, e pelo meu irmão Francisco. A minha mãe Joaquina também era criativa na costura e incentivou-me.

Entrevista

Barcelos Popular
Texto
30 de Dez de 2008 0

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